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“Pedi água e me deram com creolina”, conta gari em comissão geral na Câmara Legislativa 

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“Pedi água e me deram com creolina”, conta gari em comissão geral na Câmara Legislativa 

Relatos de discriminação e condições insalubres marcaram debate sobre projeto de lei que regulamenta profissão 

Jornadas longas e exaustivas; sob o sol ou sob a chuva; sem banheiro e sem água, e sem valorização financeira ou social. Essa é a realidade vivida pelos trabalhadores da limpeza urbana no Distrito Federal. O assunto foi tema de comissão geral, no plenário da Câmara Legislativa, nesta quinta-feira (26/6).  

Conduzido pelo deputado Chico Vigilante (PT), o debate reforçou a importância da aprovação do projeto de lei federal nº 4.146/2020, que “regulamenta a profissão de trabalhador essencial de limpeza urbana”.  

O parlamentar destacou que a proposta estabelece um piso nacional para os garis no valor de dois salários mínimos mensais e avaliou: “É pouco, mas hoje um gari ganha R$ 1.675, então vai ajudar bastante”. Dirigindo-se aos trabalhadores presentes no plenário da Casa, disse: “Sem vocês, a cidade estaria muito mais feia e doente”.

 

Foto: Carolina Curi/ Agência CLDF

 

O trabalho desempenhado pelos garis para a limpeza urbana e, também, para a saúde pública foi enaltecido em vários discursos. “A origem dessa profissão foi, exatamente, para combater doenças. Eles trabalham todos os dias em prol da saúde dos outros e correndo risco”, apontou Luiz Saraiva, da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT (Contracs). “Esses trabalhadores merecem respeito não só em discursos, mas nos seus direitos”, cobrou.

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“O ambiente de vocês é a rua, é insalubre; estão expostos a riscos biológicos, físicos e químicos, falta banheiro e há preconceito”, relatou a pesquisadora da Fiocruz Cláudia Jannotti, após reforçar a importância da limpeza urbana para o meio ambiente a saúde.  

Por sua vez, Rodrigo Rodrigues, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), pregou valorização financeira e social para a categoria. “Só é lembrada quando começa a acumular lixo”, criticou. Ele defendeu equipamentos de proteção individual (como luvas, sapatos etc.) adequados e “dinheiro no bolso”. 

Representando o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Mariel Angeli Lopes disse que a maior parte dos trabalhadores da limpeza urbana no Brasil são mulheres. No DF, são mais de 7 mil mulheres e 4,5 mil homens.  

Com relação aos problemas de saúde vivenciados, a estudiosa abordou a grande incidência de casos de infecção urinária, de dores nas costas e problemas de coluna. “Recolhem diversos tipos de resíduos que trazem riscos à saúde”, acrescentou.

Mariel Lopes destacou, também, que as jornadas de trabalho são “longas e exaustivas” e que faltam espaços de descanso.

 

Foto: Carolina Curi/ Agência CLDF

Preconceito e violências 

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Limpeza Urbana do Distrito Federal (Sindlurb-DF), José Cláudio de Oliveira, elencou uma série de casos de discriminação vividos pelos garis: água de mangueira para matar a sede; cuspe em água servida no copo; impedimento de uso de banheiro ou de consumo de comida em restaurante com outros clientes, além de episódios de agressões físicas.

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“Esses trabalhadores merecem mais do que respeito, merecem salário digno, insalubridade, aposentadoria especial e jornada de 36 horas”, defendeu o sindicalista. Ele ainda arrematou: “Este nosso serviço de limpeza urbana adoece o trabalhador: com dez anos de trabalho, está praticamente inválido”.

A varredora Antonia Balbina da Silva reforçou a fala do representante do Sindlurb-DF: “Os garis estão doentes, estressados; trabalham com medo e fatigados”. 

A trabalhadora Maria Ester da Silva dos Santos relatou situações vividas pessoalmente: “Pedi água na casa de uma senhora, e ela colocou creolina na minha água; uma outra vez, numa distribuidora, disseram só ter água do banheiro”. Ela finalizou dizendo: “Tenho até medo de pedir água”.

 

Foto: Carolina Curi/ Agência CLDF

Regulamentação da profissão

Os garis apostam na aprovação do PL nº 4.146/2020 em busca de valorização e dignidade. Além de estabelecer um piso salarial, o texto prevê pagamento por insalubridade, jornada de 40h e aposentadoria especial.

O diretor-adjunto do SLU, Cleilson Gadelha Queiroz, lamentou que o projeto esteja há tanto tempo em tramitação; e o representante do Sindicato de Limpeza Urbana do DF, Raimundo Nonato, reclamou que a proposta “não tem fonte de custeio”.

A expectativa da deputada federal Erika Kokay (PT/DF) é que a matéria passe pela Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados na próxima semana. “Esperamos aprovar ainda este ano”, disse. “É preciso dar dignidade a quem dá dignidade à cidade”, concluiu.



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