CLDF / POLÍTICOS DO DF
Por Todas Elas – CLDF colhe sugestões para protocolo contra assédio de mulheres em bares
Publicado em
26 de março de 2023por
Eugenio Piedade
Gabriel Magno (PT), um dos autores da comissão geral de hoje, garantiu que as sugestões apresentadas esta tarde serão incluídas no texto final, antes da votação em segundo turno
Avança na Câmara Legislativa a criação de um protocolo de proteção e apoio a mulheres que tenham sofrido ou estejam em risco iminente de sofrer assédio ou importunação sexual em locais de lazer e entretenimento no Distrito Federal. A medida consta de dois projetos de lei – um do deputado Gabriel Magno (PT) e outro do Executivo – que tramitam juntos na Casa. As proposições foram debatidas em comissão geral, nesta quinta-feira (23), no plenário.
Batizado de “Por Todas Elas”, o protocolo proposto no DF tem como inspiração iniciativas semelhantes implantadas, com sucesso, em cidades como Barcelona (Espanha). O protocolo consiste em medidas a serem adotadas por bares, restaurantes, hotéis, casas de shows e outros estabelecimentos do tipo, visando a impedir violências contra as mulheres nesses espaços, bem como oferecer suporte adequado nos casos consumados.
O substitutivo aos dois projetos de lei em tramitação conjunta (PL nº 103/23 e PL nº 106/23) já foi aprovado em primeiro turno, e a expectativa é que passe por nova apreciação pelo Plenário da Casa até o final de março, em alusão ao “mês das mulheres”.
Conforme explicou o deputado Gabriel Magno (PT), um dos autores da comissão geral de hoje, as sugestões apresentadas esta tarde serão incluídas no texto final, antes da votação em segundo turno. O distrital ressaltou a importância do debate público e das contribuições, “porque a construção de um protocolo eficiente precisa ser um pacto social de toda a sociedade do Distrito Federal”.
Ainda em sua fala de abertura da comissão, Gabriel Magno destacou alguns dados relativos à violência contra a mulher, a exemplo do levantamento do Ipea que revela que o Brasil registra 822 mil casos de estupro por ano. “Isso significa dois casos por minuto. Enquanto nós estivermos nessa comissão geral, algumas dezenas de mulheres serão vítimas de violência sexual”, afirmou.
O distrital citou, também, a pesquisa “Bares Sem Assédio”, realizada pela Johnny Walker com mais de 2 mil brasileiras. Conforme informou, o estudo mostra que 53% das entrevistadas já deixaram de frequentar bares, restaurantes ou casas noturnas por medo de ofensivas machistas, e 41% disseram só se sentir plenamente confortáveis, nesses ambientes, na presença de um grupo de amigos.
“É inadmissível a pauta da mulher ser nas páginas policiais. Nossa pauta é muito maior: temos de lutar por igualdade salarial, por mulheres em espaços de poder, por empreendedorismo. Mas ainda estamos aqui falando de violência”, lamentou a secretaria da Mulher do DF, Giselle Ferreira.
Sobre o protocolo “Por Todas Elas”, a chefe da pasta disse ser “um convite a toda a sociedade, porque a pauta da mulher é de toda a sociedade”. Ela afirmou que o protocolo poderia ser estabelecido por meio de decreto, mas ressaltou a relevância da discussão no Legislativo local: “Só vem a somar”.
Por Todas Elas
A secretária de Justiça do DF, Marcela Passamani, observou que uma mulher sofre importunação sexual a cada 15 minutos no DF. Ela detalhou a proposta do protocolo para enfrentar esse cenário. Entre as medidas a serem implementadas pelos empreendimentos de lazer e entretenimento, em parceria com o governo, está a capacitação dos funcionários do setor para identificar situações de risco às consumidoras, bem como oferecer os primeiros cuidados às vítimas.
Além disso, o protocolo estabelece o acolhimento das mulheres em local reservado. E trata do acionamento das autoridades competentes e da preservação de eventuais imagens de câmeras de segurança. Os estabelecimentos que cumprirem todos os requisitos receberão o selo “Por Todas Elas”.
A proposta foi elogiada pela coordenadora geral do Centro de Atendimento à Mulher (Ligue 180), Elen dos Santos Costa. Ela ressaltou, em especial, a previsão de capacitação dos trabalhadores para o acolhimento e completou: “O projeto chama o setor a se responsabilizar”.
“Me tranquilizou a questão de priorizar o atendimento. Se a mulher não tem esse primeiro acolhimento, ela vai para casa, muitas vezes se culpa, se sente envergonhada, guarda a situação para ela e só vai a uma delegacia quando encorajada por um familiar ou amigo. Para nós, que cuidamos da investigação, já se passou um tempo que é precioso, se perde muita coisa, prova, e a efetividade da atividade da polícia, da proteção que poderia ser conferida, se perde”, avaliou a delegada chefe adjunta da Delegacia da Mulher (Deam) da Asa Sul, Simone Ferreira de Alencar.
Para ela, o protocolo, com diretrizes claras, vai dar efetividade ao trabalho da polícia: “Ter um funcionário treinado, capacitado para atender a vítima, e um lugar reservado vai, além de encorajar essa mulher a fazer o registro, garantir à polícia a questão da preservação da prova”. E prosseguiu: “Muitas vezes, a polícia tem dificuldade com os estabelecimentos comerciais, justamente, por não ter critérios estabelecidos de preservação de imagem, de preservação da prova. Encontramos dificuldade, depois, para apurar. A vítima acaba ficando sem resposta e desacreditada”.
O presidente da Fecomércio, José Aparecido, disse esperar que o projeto seja aprovado, “mas que dê condições para os empresários fazerem essas intervenções”. “O empresário não pode assumir a responsabilidade do Poder Público, o poder de polícia, para proteger as mulheres. Com a lei, podemos ter, pelo menos, um norte para fazer interferência”, ponderou.
Sugestões
Vânia Cecília de Lima Andrade, assessora de Promoção de Direitos do Ministério da Justiça, apresentou algumas sugestões para aprimorar o protocolo. Sobre a capacitação dos funcionários, ela sugeriu que seja prevista a regulamentação de uma matriz curricular mínima: “Para ter qualidade adequada”.
Além disso, ela defendeu que o acionamento das autoridades competentes seja incondicional, independente da vontade da vítima; e destacou a importância de se garantir uma funcionária do sexo feminino quando da condução da vitimada ao lugar reservado.

Por sua vez, o presidente do Sindicato dos Hoteis, Bares e Restaurantes (Sindhobar), Jael Antônio da Silva, considerou a proposta “meritória”, mas sugeriu que os cartazes a serem afixados, tratando do atendimento à mulher que se sinta em situação de risco no interior do estabelecimento, sejam produzidos “em cooperação” com os órgãos públicos. “A imputação desse custo ao empresário pode ser dividida”, considerou.
Do papel à realidade
“É uma alegria ver que o Estado está se mobilizando para enfrentar esse problema de forma mais séria”, afirmou o juiz titular do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Bem-Hur Viza. Mas ponderou: “No âmbito da polícia, a lei Maria da Penha fala que vai ter espaço de acolhimento, que a mulher vai ser atendida por uma agente. Mas sabemos que a Delegacia da Mulher funciona de 12h às 18h. E acabou. Se nós só criarmos mais leis, mas não criarmos estrutura para que sejam implementadas, não teremos avanços”.
A deputada federal Erika Kokay (PT/DF) foi na mesma linha: “Temos a terceira melhor legislação do mundo de combate à violência doméstica, que é a Lei Maria da Penha. Precisamos fazer que ela se transforme numa realidade, e precisamos ampliar o conceito, que é o conceito de que a sociedade é sexista, é machista, subalterniza as mulheres, quer nos silenciar, nos amordaçar, dominar as nossas existências”.
Sociedade patriarcal e machismo
Além da implementação das leis, na prática, os participantes da comissão geral apontaram o cerne das numerosas violências contra a mulher: o machismo.

Representando o deputado Ricardo Vale (PT), a jornalista Maria Paula de Andrade defendeu que o “mês da mulher” deve ser um recado para os homens: “Vocês podem até nos dar flores, mas assegurem o respeito e garantam os direitos de todas as mulheres: sejam elas cis, trans; homo, hetero. Respeite a moça 365 dias por ano”.
“O combate ao sexismo, à misoginia e a todos os tipos de discriminações contra o gênero feminino é o alvo central dos debates”, prosseguiu. Maria Paula ainda completou: “De que servem as leis exemplares quando as mulheres já estão mortas? Eu não quero mais chorar em cima do caixão das minhas. De que servem tantas leis se o machismo anda solto por aí? Eu não sou mulher só no mês de março. E não sou mulher negra só em novembro”.
“A sociedade machista e patriarcal precisa ser combatida. Não estamos combatendo os homens, mas o machismo. E, para mudar a situação, não bastam políticas públicas específicas, é importante a participação feminina em espaços decisórios”, pregou Nildete Santana, da Comissão da Mulher da OAB-DF.
O papel da educação na construção de uma sociedade mais igualitária foi defendido por vários participantes da comissão geral. “A mudança começa na escola, desde criança, falando sobre isso. O combate à violência, ao feminicídio, e a mudança da estrutura de poder começam ali”, ressaltou Elen Costa, do Ligue 180 (canal de denúncias de violações de direitos das mulheres).
O presidente do Sidhobar, Jael dos Santos, concordou: “O que temos de fazer é acabar mesmo com o machismo e patriarcalismo. Como fazer isso? Essa é uma questão cultural, de educação. Não é uma lei, por mais que seja protetiva, que vai mudar esse status quo. Temos de fazer um trabalho de base, imediatamente, nas escolas”.
Um dos autores da comissão geral, ao lado de Magno, o deputado Ricardo Vale (PT), pregou que a luta contra as violações de direitos das mulheres tem de ser “permanente”. O distrital apontou que a Casa está com uma campanha institucional contra o machismo.
Denise Caputo – Agência CLDF








“Não basta ocupar espaços, precisamos transformá-los”, diz Doutora Jane em solenidade sobre liderança feminina

Semana de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa ofertará serviços gratuitos de saúde, cidadania e bem-estar

Médica de renome, Hermelinda Pedrosa recebe título de Cidadã Honorária de Brasília
CLDF celebra Setembro Verde, mês de conscientização sobre doação de órgãos e tecidos

Comissão geral estima aumento da arrecadação do DF com reforma tributária
BRASÍLIA


“Não basta ocupar espaços, precisamos transformá-los”, diz Doutora Jane em solenidade sobre liderança feminina
“Não basta ocupar espaços, precisamos transformá-los”, diz Doutora Jane em solenidade sobre liderança feminina Para homenagear e dar visibilidade a...


Semana de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa ofertará serviços gratuitos de saúde, cidadania e bem-estar
Semana de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa ofertará serviços gratuitos de saúde, cidadania e bem-estar Evento será nos dias...


Médica de renome, Hermelinda Pedrosa recebe título de Cidadã Honorária de Brasília
Médica de renome, Hermelinda Pedrosa recebe título de Cidadã Honorária de Brasília Quando o assunto é tratamento e prevenção do...
DISTRITO FEDERAL
CLDF celebra Setembro Verde, mês de conscientização sobre doação de órgãos e tecidos
CLDF celebra Setembro Verde, mês de conscientização sobre doação de órgãos e tecidos Nesta segunda-feira (29), às 19h, a Câmara...


Comissão geral estima aumento da arrecadação do DF com reforma tributária
Comissão geral estima aumento da arrecadação do DF com reforma tributária Especialistas também ressaltaram perda de autonomia tributária Promovida por...


CPI do Rio Melchior constata falta de servidores para fiscalização do meio ambiente
CPI do Rio Melchior constata falta de servidores para fiscalização do meio ambiente A Comissão Parlamentar de Inquérito do Rio...
POLÍTICOS DO DF


Estudantes apresentam propostas de lei para um futuro mais sustentável
Na manhã desta terça-feira (23), o plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal recebeu dezenas de alunos do oitavo ano...


Comissão dos Direitos da Mulher aprova proposições e comemora um ano de atuação
Comissão dos Direitos da Mulher aprova proposições e comemora um ano de atuação Criada há um ano no quadro das...


Grupo Empreendedoras do P Norte recebe homenagem nesta quarta (24)
A Câmara Legislativa do Distrito Federal vai realizar uma sessão solene em homenagem ao grupo Empreendedoras do P Norte, projeto...
POLÍTICOS DO BRASIL


DF apresenta superávit fiscal e controle de despesa com pessoal
DF apresenta superávit fiscal e controle de despesa com pessoal Relatório mostra despesas realizadas com educação e saúde abaixo do...


CLDF homenageia mulheres que lideram ciência, tecnologia e inovação no DF nesta terça (24)
CLDF homenageia mulheres que lideram ciência, tecnologia e inovação no DF nesta terça (24) A Câmara Legislativa do Distrito Federal...


Cidades do DF recebem retrospectiva de filmes vencedores do Troféu Câmara Legislativa
Cidades do DF recebem retrospectiva de filmes vencedores do Troféu Câmara Legislativa Exibição gratuita de títulos produzidos no Distrito Federal...
TRÊS PODERES


Medida que prevê apoio psicológico a profissionais da saúde e educação avança em comissão
Medida que prevê apoio psicológico a profissionais da saúde e educação avança em comissão A Comissão de Saúde (CSA) da...


CLDF aprova projeto de lei que determina direito à iluminação aos pedestres
Os deputados distritais aprovaram, na tarde desta terça-feira (23), o projeto de lei 1477/24, que dispõe sobre o direito do...


Após mundial de Caio Bonfim, deputados cobram melhorias em estádios do DF
Foto: Carolina Curi/ Agência CLDF Ricardo Vale cobrou melhorias no Estádio Agostinho Lima, situado em Sobradinho, onde o marchador treina...
ENTORNO


Aprovada a criação do dia do interventor penal da Polícia Penal do Distrito Federal
Aprovada a criação do dia do interventor penal da Polícia Penal do Distrito Federal A Câmara Legislativa aprovou nesta terça-feira...


Plenário aprova novas regras para regularização de imóveis ocupados por igrejas
Plenário aprova novas regras para regularização de imóveis ocupados por igrejas Nesta terça-feira (23), a Câmara Legislativa apreciou novas...


CLDF dá aval para expansão do Setor de Desenvolvimento Econômico de Planaltina
CLDF dá aval para expansão do Setor de Desenvolvimento Econômico de Planaltina Área a ser desafetada fica entre o Setor...