Um livro incrível de Gabriel Garcia Marques, dos menos conhecidos, chama-se “Crônica de uma morte anunciada”.
No Brasil, o título deveria ter sido traduzido assim: “Claro que vai dar merda”.
A “crônica de uma morte anunciada” aplica-se a este impasse do Governo insensato com o Banco Central do Brasil (BC).
Roberto Campos Neto é o presidente do BC. Teve como avô o ícone da economia Roberto Campos – e se apresenta como verdadeiro galã (FOTO). Quando vai ao Congresso Nacional, a profusão de cafajestes nos plenários e nos corredores chama ele de “O Bonitão”.
Futilidades à parte, este privilegiado na fachada é respeitado no mundo todo como um dos melhores no ramo.
Na sua gestão, conseguiu uma proeza incrível – e não foi pela fotogenia.
Deputados e senadores, num ataque de bom senso, declararam o Banco Central do Brasil independente. O BC agora pode adotar atos monetários e cambiais à revelia do Presidente da República (na época era Bolsonaro, e muitos não imaginavam que na sequência viria um novededista).
Os que ridicularizavam “O Bonitão” definiram que ele teria um mandato de quatro anos – que termina em 31 de dezembro de 2024.
Isso quer dizer que Campos Neto é imexível no cargo nos dois primeiros anos do atual governo. Pauleira!
Firme e forte, o Banco Central mantém a taxa de juros oficial Selic em 13,75% ao ano. É o remédio quase mortal receitado por economistas de todo o mundo para controlar a inflação.
Claro que o presidente do BC é chamado de bolsonarista por uns e outros, mas mostra-se contundente.
Nos primeiros dias do Governo Lula, ele chocou os petistas. Disse que, se Bolsonaro não tivesse interferido de forma autoritária (e tributária) nos preços da gasolina, a inflação de 2022 seria 9% – e não os 5,8% felizmente registrados.
E agora, o que ocorrerá quando o Ministério da Fazenda suspender a isenção de impostos federais a partir de 1º de março, estourando os preços desse combustível?
Assim, o BC não é maluco de reduzir os juros. Na reunião de 16 de março, pode até aumentar a taxa para 14% – se a inflação realmente disparar.
Há outra questão crítica. O Banco Central estabeleceu em 3,25% a meta da inflação para o final de 2023. Totalmente irreal!
Campos Neto até já andou admitindo que a inflação real pode ficar em 5% – mas o realismo (que não é fantástico) indica que pode chegar perto dos 9%, do qual escapamos em 2022.
Surge outra polêmica. Existe o Conselho Monetário Nacional (CMN), formado pelo presidente do Banco Central com o Ministro da Fazenda (Haddad) e a Ministra do Planejamento (La Tebet).
Os três vão se reunir na quinta-feira para discutir essa meta de inflação de 3,25% – irreal e sonhadora, mas defendida pelo mercado.
Boatos falam que a meta pode subir para 3,50% – o que é sonho dourado numa noite de verão.
E assim segue.
O PT acha que consegue derrubar Campos Neto. Mas o cara é forte e está coberto de razões internacionais.
Todos percebem que vai dar merda – mas certamente RCN não morrerá nesta paródia de Garcia Marques.
Ronte: RENATO RIELLA














