Por Daniel Xavier
daniel.xavier@grupojbr.com
O foco do debate foi a falta de segurança nas passagens subterrâneas. Hoje, elas estão mal iluminadas, mal cuidadas e quase sem movimento. O que deveria proteger, acaba assustando. Diante disso, muitos pedestres optam por uma alternativa ainda mais perigosa: enfrentar, correndo, as sete faixas do eixão em meio ao tráfego intenso. O resultado são mais atropelamentos — alguns, infelizmente, fatais.
Desde 2024, a Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb) vem cobrando providências do Governo do Distrito Federal. A ação judicial movida pela promotoria responsabiliza, além do GDF, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), o Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DF) e outros órgãos por manterem uma lógica urbana centrada nos carros, deixando pedestres e ciclistas em segundo plano. A crítica é bem direta. Brasília tem priorizado a fluidez dos veículos em detrimento da vida.
Durante a audiência, o comandante do Comando de Policiamento de Trânsito da Policia Militar do DF, coronel Edvã Sousa, trouxe uma visão baseada na vivência de quem lida diariamente com os impactos da imprudência e da falta de estrutura. Ao mesmo tempo em que se mostrou aberto ao debate, o coronel ponderou que a simples redução da velocidade de 80 km/h para 60 km/h pode não ser a solução ideal.
“O receio da diminuição dessa velocidade se dá muitas vezes pelo incentivo às pessoas atravessarem fora das passagens. Não estou dizendo que a velocidade cria uma barreira. Mas é preciso trabalhar na melhor forma dessas pessoas fazerem a travessia com segurança”, afirmou o coronel, destacando que muitos acidentes ocorrem justamente quando trabalhadores tentam atravessar a via no início ou no fim do dia, fora das passagens subterrâneas.
O comandante também relembrou o sucesso da campanha da faixa de pedestres, nos anos 1990, como exemplo de que Brasília pode, mais uma vez, liderar uma mudança cultural no trânsito. “Na época, ninguém acreditava. Houve resistência, acidentes, mas persistimos. Hoje, temos um patrimônio cultural exportado para o Brasil inteiro”, disse, referindo-se ao hábito, quase exclusivo da capital, de motoristas pararem espontaneamente para pedestres.
Fonte: Jornal de Brasilia